Célia acordou cedo como todos os dias. "Cedo demais!" pensou ela sentada à beira da cama. Durante o rápido banho, Célia pendeu sua cabeça para frente deixando a água escorrer, como se quisesse fazer o tempo passar mais lentamente.
O café da manhã foi praticamente engolido inteiro, como todas as manhãs, sorvido de pé. Estava atrasada para o trabalho. A condução, lotada como sempre, provocava o encontro inevitável dos corpos. Alguns dias isso não era incômodo, mas outros dias... Sempre há um "engraçadinho" que acha que tudo que é mulher tem a mesma profissão que a mãe dele... "Filho de uma put..." pensou Célia enquanto tentava se desvencilhar agressivamente do "malandro" atrás dela.
-Bom dia, bom dia! - cumprimentava Célia enquanto corria até seu computador.
- Bom dia Célia! - respondeu Marcos, seu chefe, que veio atrás dela assim que ela chegara - Temos que terminar a correção no sistema hoje. Ele entra em produção amanhã.
- OK. - Célia era programadora e sabia exatamente o que as palavras de Marcos queriam dizer: hora extra. Ainda eram 08:00 h da manhã, ela havia saído as 02:00 h da madrugada na noite anterior, trabalhando nesse sistema, e ainda não havia terminado. 10:00 h: Cálculos, variáveis, linhas de código, instruções e mais instruções. Compila o sistema.... Erro.
- Droga! - reclama Célia. Havia esquecido a sintaxe de um código e o que ela havia digitado estava errado.
- Busca na internet sua tonta... Não fica tentando adivinhar!! - Ela brigava consigo mesmo. Sentia a mente cansada. Os olhos pesavam na frente do monitor. A imensidão de códigos e cálculos às vezes faziam ela se perder na própria lógica.
12:00 h:- E aí Celinha? Vamos almoçar? - perguntou Susan, sua amiga dentro e fora do trabalho.
- Vai dar não Susan. Tenho que terminar isso aqui.. Não quero ficar até tarde igual ontem.
- Você quer dizer igual a semana inteira né amiga?
- Pois é... - concordou Célia dando um longo suspiro e ligando para o disk-entrega de lanches.
19:00 h: Ainda sentindo o peso do sandwiche com refrigerante que comeu ali mesmo, na frente do computador, Célia abria o mapa do banco de dados para verificar se os dados estavam sendo gravados nas tabelas corretas.
Mais linhas de código, mais cálculos, mais instruções. Compila o sistema e.... Funciona!
- Graças a DEUS! - comemora Célia. Mas a alegria dura pouco ao ver que o teste deu errado. Ao reabrir o código fonte Célia sentiu suas pernas pesadas como se houvesse algo amarrado em seus pés, puxando-a para o chão.
23:00 h:Célia era a única trabalhando no escritório. Suas pernas estavam cada vez mais pesadas. Suas mãos pareciam amarradas. Mal conseguia digitar. Ela bebia, em pequenos goles, o último copo de café, frio.
03:00 h: Célia vê o sistema compilando. As linhas de código passam frente aos seus olhos.
- Célia? - Ela olha para trás, de onde veio o som, e só vê a janela.
- Célia? Aqui! - Ela olha de novo e não acredita... Um homem estava do lado de fora da janela. Apesar de nunca tê-lo visto, ela o conhecia.
- O que você está fazendo aqui?
- Vim te buscar? Vamos?
- Vamos, pra onde... - Antes que Célia pudesse terminar sua pergunta, ela viu seus pés amarrados à mesa. O homem entrou pela janela e a soltou. Neste momento Célia foi puxada para o lado de fora. Era tudo muito surreal pois ela não caiu. Estava flutuando no ar.
- Vamos? - Pergutou ele mais uma vez. Célia nem respondeu. Pegou na mão dele e se virou para a direção em que o sol nascia.
Voaram por cima de vales, campos, e pousaram suavemente em uma colina. Ele se sentou e, carinhosamente, fez Célia deitar sua cabeça em seu colo afagando seus belos cabelos vermelhos.
- Célia?
- Hmmm? - respondeu ela com dengo, vendo o sol nascer, sentindo os primeiros raios de sol a lhe aquecer.
- Célia? - chamou mais alto.
- Hmmmmmm?
- Célia??? - dessa vez sacudiu. Célia se levantou num só salto. Havia deitado por sobre o teclado. A tela do computador mostrava a palavra "Compilação bem Sucedida".
- Célia? Tudo bem? - era Susan - São 08:00 da manhã amiga. Você passou a noite aqui?
- Célia??? - chamaram de novo mas dessa vez não era Susan. A voz veio novamente da janela - Célia?? - chamou a voz por uma segunda vez. Célia correu para a janela, jurando ter visto o homem de pé no parapeito. Ao abrir a janela não havia nada. Ninguém.
- Será que se eu... - pensou Célia já se debruçando. - Não... Não pode ser. - e voltou.
- Até à noite Célia. - Disse ele. Ela ouviu.
Um universo paralelo a nos acalentar, enquanto o pulso ainda pulsa; o corpo ainda é corpo.
ResponderExcluirVc é show, meu velho.