quarta-feira, 7 de abril de 2010

Acordei?



Acordo assustado, molhado de suor, com a nítida sensação de que não dormi. Minha noite foi pesada... Sonhei a noite toda com o trabalho. E o pior.. Todas vez que isso acontece, sei que não vou passar bem o dia. Afinal, não descansei.
Sentei na cama com os pés para o lado de fora. Me apoiei pesadamente sobre meus braços e meus olhos não queriam abrir por nada. Ainda ouvia o barulho frenético do meu cérebro trabalhando.
- Tudo bem? - Minha esposa perguntou colocando as mãos nas minhas costas e me fazendo um breve carinho.
- Tá sim... Só não consegui dormir direito. Passei a noite inteira sonhando.
- Pesadelo?
- Não era não. Só sonhei que estava trabalhando.
- É stress. Vem, volta pra dormir. - disse carinhosamente me puxando para ela.

Ensaiei me deitar quando o despertador começou a berrar. Meu corpo estremeceu com o susto. Suspirei fundo, dei um beijo nela e voltei da metade do caminho, reunindo forças para levantar.

O ritual da manhã é sempre o mesmo: Higiene pessoal, vestir-me, café da manhã e sair correndo porque, com certeza, já estou atrasado.
Dou meu habitual beijo de despedida nela, beijo cada um dos meus filhos que ainda dormem, e saio com o carro. O dia mal clareou e já estou na estrada "curtindo" um engarrafamento. Quando consigo chegar ao trabalho já estou cansado! Também pudera.. Duas horas e meia de viagem num trecho que não deveria durar nem 40 minutos...
Estaciono o carro, subo correndo ao escritório e o stress continua.
- Engarrafamento? De novo? - meu chefe pergunta com voz cínica por causa de meia hora de atraso.
- É. - respondo seco com vontade de dizer meia dúzia de palavrões.
- Sei... - retruca ele mais cínico ainda.

O dia inteiro é só reunião. Tem até reunião para saber quando vai ser a próxima reunião. Bate-boca, desentendimentos, brigas, cobranças e mais cobranças, correria pra colocar o sistema no ar, correria porque o sistema saiu do ar...
Nem almoço direito. Um lanche é o máximo que consigo fazer e, assim mesmo, nem sinto o gosto direito do "bate-entope" porque não posso tirar os olhos do computador.
A parte da tarde foi mais intensa... Nem tive tempo de ligar para casa pra saber como estavam todos por lá... Meu celular não parou um minuto de tocar e as três linha do meu ramal não pararam quietas. Audioconferências, ligações urgentes, demandas de última hora, tudo ao mesmo tempo.
E o e-mail?? Não param de chover correios de tudo quanto é tipo de urgência. Minhas mãos, em alguns momentos, dói de tanto escrever.
A única coisa boa foi que hoje consegui sair cedo. Saí às 20:00h. Putz, onde estou com a cabeça??? Desde quando sair do trabalho às oito horas da noite é cedo??? E o centro da cidade está fervendo: ônibus, carros, motos, pessoas e mais pessoas.
Um cara me dá um esbarrão que quase arranca meu ombro e ainda por cima veio tirar satisfação comigo. A discussão no meio da rua foi feia. Só não saímos no braço por que o pessoal do "deixa disso" separou. Saio tão "P" da vida que atravesso a rua direto sem nem olhar. Só vejo o farol do ônibus crescer na minha frente e....

Acordo assustado, molhado de suor, com a nítida sensação de que não dormi. Minha noite foi pesada... Sonhei a noite toda com o trabalho. E o pior.. Todas vez que isso acontece, sei que não vou passar bem o dia...

2 comentários:

  1. Esse texto seu tem um "Q" marxista.
    Conheço um pouco da realidade abordada e posso te dizer que isso é como um trabalho que nos dá trabalho.
    Nesse caso, a 'Mais valia'é retirada não do excesso de produção, mas do excesso de tensão. O Estado é o beneficiado.
    Um abraço!

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  2. Ola,gostei muito do seu blog!!!
    Parabéns!!!
    Nesse texto vc acaba de descrever as manhãs que eu e meu esposo temos presenciado!!!
    A diferença é que ele vai de moto...
    Mas é bem parecido mesmo.
    Exelente texto.
    ABRAÇOS

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